domingo, 22 de maio de 2011

Carta aberta à vida

Do nascimento aos 10 anos, aprendemos as regras. De família, da escola, aprendemos a receber ordens e nos conformar. Aprendemos os horários, a acordar cedo para ir à escola para mais tarde acordamos cedo para ir a um trabalho que não gostamos, para ganhar o vil dinheiro e pagar as contas que nunca acabam, na eterna escravidão das dívidas, da prestação do carro, da casa, das viagens onde gastamos mais do que devíamos.
Dos 10 aos 20, aprendemos a liberdade. De aproveitar a vida enquanto somos jovens, de escolher os primeiros amores, de nos rebelarmos contra as regras impostas, de escolhermos nossas carreiras quando não nos impõe o curso da vida que temos que seguir. Ganhamos os primeiros dinheiros, compramos as primeiras coisas sem ter que dar satisfação a ninguém, ajudamos os pais quando eles precisam, sentimos orgulho de comprar os presentes que daremos. É a parte mais longa da vida e mais cheia de sonhos. Sonhamos em poder dirigir aos 18, em entrar na faculdade, no primeiro emprego, com a família que vamos construir, no sucesso que iremos conquistar. Somos imortais.
Dos 20 aos 30, começamos as nossas carreiras. Descobrimos que o sucesso não vem tão rápido, que não somos respeitados como profissionais ainda, ouvimos que ainda somos “un(ma)s menino(as)”. Se atingimos o sucesso nesta etapa, nos tornamos arrogantes, achamos que podemos tudo, que somos os donos do mundo, que estávamos certos, até que o cavalo nos derruba. Aí descobrimos que existem pessoas mais fortes, que o mundo não é perfeito, que existem regras não escritas, que medíocres se protegem, que existem poucos amigos.
Dos 30 aos 40, precisamos consolidar nossas carreiras. Se escravos numa empresa, temos que competir para subir, derrubando bons e maus, pois só há lugar para um no topo e os abutres estão esperando para nos derrubar. Nos casamos e os filhos virão ou os sobrinhos ou os adotaremos, com mais despesas e mais trabalho para mantermos o padrão mínimo que se espera. A vida começa a passar muito rápido, começamos a pensar na decadência, passamos a ter mais medo se não atingimos a estabilidade financeira, nos arriscamos menos. É a fase da decisão pela estabilidade ou a última chance de arriscar.
Para que a busca desesperada pelo sucesso se ele atrai mais gente que tenta nos derrubar do que admiradores?
Aos 40 estamos na metade da vida ou no primeiro terço, com a expectativa de vida subindo para 120 anos?
Depois de ver tanta coisa ruim acontecendo, por que não nos dedicamos a fazer o bem? Ajudar os outros sem esperar nada em troca, não brigar mais, aprender a ouvir, dedicar mais tempo à natureza e a quem precisa, a ficar mais próximo da família, aos que sobraram e que nos amam de verdade, que num piscar de olhos já não estarão mais aqui.
Deixemos as pessoas serem o que elas querem. Que façam suas escolhas, que não se esqueçam de sonhar e que respeitem os outros, sem se importar com o que pensem, pois o sucesso e a felicidade estão dentro de nós e ninguém jamais poderá tirar isso de quem teve coragem de encarar a vida de frente. Só não erra quem nunca tentou e o tempo não volta para corrigirmos o que aprendemos tarde demais.